Antes de mãe e esposa, Hannah Neeleman, ou Ballerina Farm, era dançarina. O nome “ballerina” descreve bem o antigo sonho de Hanna, que se formou em dança na Universidade de Julliard, considerada a maior escola de artes dos Estados Unidos. Hoje, ela vive numa fazenda no interior de Utah, com oito filhos e um marido.
Hannah publica sua rotina nas redes sociais a anos e tem um perfil consolidado com 9,5 milhões de seguidores no Instagram e mais de 9,2 no TikTok. Ela é um dos maiores nomes do nicho das “trad wifes”, as “esposas tradicionais” das redes sociais.
Nesse nicho, mulheres que abandonaram suas carreiras para serem mães e esposas em tempo integral, compartilham suas rotinas de forma romantizada. Esse estilo de vídeo até mesmo se tornou meme, por conta dos conteúdos quase irreais, de mães que acordam de madrugada para produzir cereal do zero para o café da manhã da família.
Por que tanto bafafá nas redes sociais?
O caso da Ballerina Farm chamou a atenção das redes sociais após a publicação de uma reportagem escrita pela jornalista estadunidense Megan Agnew, do The Times, que fala sobre a rotina desgastante de Hannah e como ela parecia estar vivendo uma vida imposta e comandada pelo marido, Daniel, um empresário bilionário.
Na reportagem, Megan descreveu que quando foi visitar a fazenda da família para a produção da reportagem, Hannah era constantemente interrompida pelo marido e pelos filhos. Em alguns casos, Hannah nem conseguia responder as perguntas que lhes eram direcionadas, já que o marido assumia o tópico das conversas.
Assim como grande parte das trad wifes americanas que dominam o TikTok, Hannah e seu marido cresceram em famílias mórmons. Por questões religiosas, Hannah não pode usar nenhum método contraceptivo, realizar partos em hospitais ou utilizar remédios para dor ao parir.
Hannah confessou para Megan que teve dois dos seus oito partos no hospital e que utilizou remédio para dor ao parir apenas quando seu marido não estava presente.
Na reportagem, Megan conta que toda a criação dos filhos era de responsabilidade total de Hannah. O marido não se envolvia a fundo na criação dos filhos e também proíbe qualquer auxílio com babás no dia a dia – por mais que não falte dinheiro para isso.
Até que ponto Ballerina queria essa vida?
As babás são contratadas apenas nas “noites de encontro” do casal, que acontecem religiosamente uma vez por semana, a pedido (ou comando) do marido.
Um dos comentários mais frequentes, realizados pelos internautas, é o questionamento de até que ponto essa situação foi escolhida por Hannah. Como o nome Ballerina e a formação na maior universidade de arte dos Estados Unidos sugere, ela queria ser uma bailarina.
Hannah conta que interrompeu o ínicio da sua carreira promissora quando engravidou do primeiro filho do casal. Depois, por escolha do marido, a família decidiu viver em uma fazenda isolada, colhendo e plantando tudo o que consomem. Exceto pelo fato de que Hannah é quem colhe, planta, cozinha e cuida de tudo. Sozinha.
Daniel até mesmo confessou para a jornalista que sua esposa desmaiou de exaustão diversas vezes – e não deixou que ela própria contasse essa história.
A internet questiona também o motivo pelo qual esse nicho de esposas tradicionais tem ganhado cada vez mais espaço, junto do conservadorismo.
Até que ponto produzir manteiga do zero, ao mesmo tempo que cuida de uma fazenda, oito filhos e um marido, é prazeroso e “recompensador”? Ballerina Farm poderia apenas comprar uma margarina no mercado, contratar uma babá por algumas horinhas e… dançar.
