Quando a Globo anunciou que “No Rancho Fundo” era uma sequência de “Mar do Sertão” muitos noveleiros torceram o nariz. Por vários motivos. As duas novelas foram lançadas com um intervalo muito curto entre elas.
Depois de “Mar do Sertão”, a Globo exibiu no horário das 18h apenas “Amor Perfeito” e “Elas por Elas”. O segundo motivo é que “Mar do Sertão” apesar de ter sido uma boa novela e garantido uma audiência razoável, não foi um grande sucesso para merecer uma sequência.
No entanto, a emissora apostou na história de Mário Teixeira e pagou para ver. Além disso, trouxe também vários personagens de “Mar do Sertão” de volta para “No Rancho Fundo”.
O retorno mais arriscado foi, com certeza, da vilã Deodora (Débora Bloch). No final de “Mar do Sertão”, ela mata o filho Tertulinho envenenado. Geralmente, vilãs não costumam voltar em novelas, porque seus finais são, na maioria das vezes, trágicos.
Escalação do elenco de “No Rancho Fundo” foi arriscada, mas certeira
Quando as primeiras notícias e imagens da novela começaram a aparecer, mais desconfiança do público. Personagens muito parecidos com a antecessora. Não que isso seja um problema, afinal todos os autores costumam ter seu “estilo” e repetir padrões em suas obras.
A escalação também foi ousada. Em meio a rostos desconhecidos como os de Quinota (Larissa Bocchino) e Artur (Túlio Starling), a novela ainda teria alguns nomes que não costumam aparecer com frequência em novelas como Andréa Beltrão, que vive Zefa Leonel e Mariana Lima, que interpreta a Tia Salete.

“No Rancho Fundo” ainda traz José Loretto mais uma vez fazendo um papel de sedutor. Um risco a mais escalar um ator que vem repetindo novelas e padrões. Ou seja, tinha tudo para dar errado, mas o que se vê na tela é justamente o contrário.
Apesar de exagerar um pouco na prosódia e de ter uma caracterização um pouco duvidosa, “No Rancho Fundo” é uma novela das seis de primeira linha. Uma história com todos os elementos necessários para cativar os telespectadores e encantar a audiência.
O casal jovem protagonista é um frescor para o público. Tanto Larissa, quanto Túlio, parecem não temer a estreia em papeis principais e parecem ter nascido para viver os personagens.
Um protagonista forte
Com Zefa Leonel de Andréa Beltrão a novela tem uma zona de segurança muito boa. A personagem é forte e mostra a atriz de uma forma bem diferente do que o público está acostumado a vê-la. Dona Zefa Leonel é aquele tipo de matriarca que sempre ganha o carinho do público.
Os coadjuvantes são outra base firme de “No Rancho Fundo”. Alexandre Nero, Clara Moneke, Luísa Arraes e Eduardo Moscovis emprestam talento aos personagens e fazem a novela ter uma unidade, com núcleos interessantes e que se complementam.
Não se pode chamar “No Rancho Fundo” de continuação de “Mar do Sertão”. São histórias diferentes no mesmo universo. Isso permite a volta dos personagens como o prefeito Saba Bodó (Welder Rodrigues) e Padre Zezo (Nanego Lira).

Além, é claro, de um dos maiores sucessos de “Mar do Sertão”, a dupla de repentistas que encerra cada capítulo cantando tudo que vai acontecer no dia seguinte. “No Rancho Fundo” levanta uma questão fundamental da atual situação da teledramaturgia da Globo.
O debate é que a emissora, famosa por suas novelas, passa por uma das maiores crises criativas da sua história. As tramas inovadoras não conquistam a audiência. As que apostam em histórias batidas fazem sucessos medianos.
Crise criativa nas novelas da Globo
Enquanto isso, a Globo vai apostando cada vez mais nos remakes e nas reprises. Hoje, são duas faixas de reprise na emissora, com “Cheias de Charme” e “Alma Gêmea”. Nas 21h, duas novelas de Benedito Ruy Barbosa já foram refeitas, com “Pantanal” e “Renascer”.
A Globo já divulgou que vem aí o remake de “Vale Tudo” também. E como se viu em “Elas por Elas”, nem sempre os remakes são garantias de sucesso. Agora, com “No Rancho Fundo” começa a se levantar a ideia de continuações de tramas e volta de personagens.
Não sabemos como isso vai impactar o futuro da telenovela. Por enquanto, o que se pode ver é que uma sequência como “No Rancho Fundo” pode ser um grande acerto. Uma novela diferente, cheia de elementos que não podem faltar em um bom folhetim, mas com cheiro de coisa nova.
O texto de Mário Teixeira em “No Rancho Fundo” deixa claro que a crise não é criativa. Ela pode ter muito mais a ver com o envelhecimento do público que assiste TV aberta e da concorrência do streaming, cada vez mais cheio de opções.
Por enquanto, o que se pode dizer, é que “No Rancho Fundo” é sim, a novela das 18h que a Globo precisava. Serve para o momento. Se vai servir para o futuro, o amanhã dirá.